O trabalho de Roger Mello é fascinante, graças a sua beleza e originalidade. Trata-se de mais um feliz caso, na Literatura Infantil, onde a função de ilustrador conjugou-se a de escritor - e o resultado só poderia ser maravilhoso!
É um caminho, para alguns talentos, muito natural, considerando que não há ninguém melhor do que o próprio autor para expressar em imagens a intenção das suas palavras. Certamente, não é uma senda que todo ilustrador traça nem o inverso é um fato. Quando essa fusão de ofícios acontece, porém, somos agraciados por obras valorosas e únicas.
Assista a uma entrevista com o autor.
Considerando um universo de mais de 100 títulos ilustrados por Roger Mello, sendo 19 de própria autoria, selecionei algumas obras escritas e ilustradas por ele.
A flor do lado de lá
Editora: Global
Em A Flor de Lado de Lá, uma anta interessa-se por uma flor. Porém, não consegue chegar até ela porque há muitos obstáculos - uma distância grande, muita água, uma baleia no caminho.
A anta observa e analisa, com cautela, os detalhes. Não desiste facilmente de seu objetivo. Faz várias tentativas, sofre, chora por não conseguir chega até aquela flor tão linda... Roger Mello, inventivo como sempre, cria um final inesperado, surpreendente. Uma leitura em que a criança terá possibilidade de construir vários significados.
Todo cuidado é pouco
Editora: Companhia das Letrinhas
Em Todo cuidado é pouco, tudo começa porque Rosa Branca era vigiada bem de perto pelo jardineiro, que um dia ficou gripado de tanto andar descalço tentando encontrar seus sapatos, que haviam sido escondidos por um gato, que tinha sido trazido pelo irmão mais novo do jardineiro, que era casado com Dalva, que havia herdado aquele gato de um tio, que tinha morrido de desgosto de tanto esperar uma carta de amor que nunca chegou.
Como uma roda-gigante, essa história escrita e ilustrada por Roger Mello traz um fato que puxa outro e encaixa todos eles numa grande estrutura circular. É, assim, um exercício de organização das causas e consequências de uma narrativa, o que a torna uma leitura a ser explorada também em sala de aula.
Vizinho, vizinha
Escrito e ilustrado em parceria com Graça Lima e Marina Massarani, Vizinho, vizinha mostra o que separa e o que une as pessoas nas metrópoles. Na rua do Desassossego, 38, a vizinhança é bem tranquila. No apartamento 101, um moço lê quadrinhos, toma café e constrói uma cidade de papel. Nem percebe o rumor da vizinha do 102, que toca clarineta, cria um rinoceronte debaixo da pia e coleciona livros e coisas antigas. Eles só se veem no final da tarde, quando se encontram no hall, trocam cumprimentos e falam do tempo. Depois, vão resolver coisas na cidade - e logo estão de volta aos seus cacarecos, guardados e manias. Como vão escapar da solidão?
Em cima da hora
Dentro de um elevador quebrado, sete pessoas aguardam a chegada dos funcionários da manutenção. Sem poder fazer nada além de esperar e pensar, cada um fala em silêncio consigo mesmo. Numa brincadeira com fluxos de consciência e focos narrativos, Em cima da hora navega na torrente das idéias de cada um dos sete passageiros desse elevador.
Uma garotinha suspeita que as outras pessoas são robôs, um palhaço inexperiente relembra o que lhe aconteceu antes de chegar ali, um homem embarca numa imaginária jornada submarina. Uma narrativa fluida e original vai se construindo com estes fragmentos de ideia, conduzindo o leitor a um passeio pelo monólogo interior de cada pessoa.
Zubair e os labirintos
Bagdá, abril de 2003. Mísseis atingiam ruas e mercados. Feridos e mortos. A Biblioteca Nacional e a universidade pilhadas. Durante três dias o Museu de Bagdá foi saqueado diante dos olhos das forças americanas e britânicas. Entre os artefatos roubados, relíquias da civilização mesopotâmica de até 7 mil anos de idade, levadas para ser vendidas no mercado de arte clandestino.
Quando Zubair encontra um objeto em meio aos destroços, depara com enigmas que o conectam à antiga Mesopotâmia, onde surgiram a escrita, o cálculo e o conceito de tempo. Por caminhos tortuosos como labirintos, Zubair alcança o tempo dos sumérios, acádios, assírios e babilônios, povos ancestrais que agora têm seu legado comprometido, como os iraquianos de hoje em meio à guerra.
Atualíssimo, divertido e original, Zubair e os labirintos é uma obra instigante no conteúdo e na forma, apresentando uma narrativa acerca da guerra num livro-brinquedo do qual o leitor participa quase como um personagem.
João por um fio
João é filho de pescador e dorme sob uma colcha costurada à mão. À noite, depois que ele se deita, os pensamentos rolam soltos: conchas, rios, girinos, redes de pesca, cantigas, cordilheiras, panos, caseados, terremotos. Roger Mello nos convida para um mergulho nos sonhos e medos que preenchem a noite do menino João. Texto primoroso e ilustrações belíssimas, inspiradas nas tramas dos bordados brasileiros.
Carvoeirinhos
"A casa do menino não é uma só. [...] É uma casa onde se põe lenha pra lenha pegar fogo e depois virar carvão. A casa do menino não é dele, não foi ele quem fez. É a casa do fogo."
De forma poética e original, a história do menino carvoeiro é narrada por um inusitado narrador: um marimbondo. Ao mesmo tempo que vai relatando a suas próprias experiências, ele observa o cotidiano do menino: o árduo trabalho de fazer os fornos, as conversas com outro menino, a necessidade de escapar dos fiscais.
As expressivas ilustrações do autor captam com sensibilidade e força a vida dura e cinzenta desses pequenos trabalhadores.
Meninos do Mangue
Quando foram pescar siri no mangue, a Sorte e a Preguiça fizeram uma aposta: ganharia quem pescasse o siri com mais patas. A Sorte venceu, claro, e a Preguiça teve que contar oito histórias, uma para cada pata do siri que a outra tinha pescado. Esse é o fio puxado por Roger Mello para contar as histórias do mangue, onde vivem caranguejos, siris e muita gente também.
Presentes em toda a costa do Brasil, em cidades como Recife e Rio de Janeiro, os manguezais viraram bairros alagados, cuja população sobrevive da riqueza biológica. Meninos do mangue conta histórias dessas pessoas - histórias inventadas, mas muito verdadeiras, do autor e ilustrador de Todo cuidado é pouco. No final do volume, um apêndice discute a importância ecológica, social e cultural dos mangues brasileiros.
Prêmio Jabuti 2002 de Melhor Livro Infanto-Juvenil e de Melhor Ilustração Infanto-Juvenil
Título Altamente Recomendável pela Fundação Nacional do Livro Infantil e Juvenil - FNLIJ 2001, categoria criança
Contradança
Em um diálogo que mais parece sonho, a filha de um vidraceiro conversa com um macaco que é quase o seu reflexo. Em poucas palavras, os dois falam sobre medo e coragem, e sobre os infinitos reflexos que nossa imagem pode gerar e sobre os outros tantos que podemos enxergar de nós mesmos e dos outros.
Curupira
Ilustrações: Graça Lima
O espetáculo já vai começar. Tudo é novidade e enigma no teatro do premiado escritor e dramaturgo Roger Mello. Um assovio lá longe distrai o pensamento. Outro assovio... De novo e bem mais perto! Risos. Tem um engraçadinho na plateia — é o que o público pensa. Mas agora o assovio vem da coxia, e para lá também caminha o foco da atenção. Curupira, meu amigo, é assim: um assovio aqui, outro mais adiante e quando se vê... Não tem jeito. Não tem volta. É assim o coisinha: meio-bicho, meio-gente, meio-assombração. Se é que pode haver três meios... Quando se vê, o teatro engoliu a gente e Curupira está mais vivo e esperto do que nunca. O espectador-leitor-ator que se cuide. O engraçadinho está escondido onde ninguém poderia imaginar. Alguém aí ouviu um assovio?
A Pipa
Uma pipa e um menino. Outras pipas e um zepelim. Esta emocionante história, poemaimagem, confronta coisas pouco irmãs: guerra e sonho, poder e leveza. E tão atual quanto o tempo qualquer. Imagem poema de cores que esconde mais outras tantas cores, mais outras tantas histórias nas imagens narrativas criadas pelo autor.
Selvagem
A história de Roger Mello - artista jovem, porém já com uma obra vasta, diversa e de grande qualidade - surpreende, desconcerta e convida o leitor não a uma, mas a várias leituras. Selvagem surpreende porque não segue um caminho definido; desconcerta, porque coloca o leitor diante de situações que exigem novos olhares para a leitura do imprevisível, do incomum; e convida a várias leituras, pois suscita novas posturas diante do conhecido. No decorrer da história, a perspectiva do olhar muda e, com ela, muda a trajetória dos acontecimentos. Ao final, a interrogação.
As várias possibilidades. E a necessidade de reler, reler e rever posturas...
Ossos do ofício
Você sabe onde anda o Florisval? Pois é, está todo mundo querendo saber. Florisval é coveiro. Ele trabalha no cemitério e estava sempre por lá cuidando das coisas, arrumando, limpando, regando. Mas de repente uma ideia entrou na cabeça dele e aí... Um mistério pairou no ar. Ninguém sabe o que aconteceu. Você sabe? Neste livro diferente, Roger Mello nos envolve numa trama divertida e enigmática, com imagens coloridas que despertam a imaginação.
Cavalhadas de Pirenópolis
Cavalhadas de Pirenópolis conta a história de um rapaz apaixonado que colhe uma flor para entregar à sua amada, mas para isto tem que vencer muitos desafios.
O Gato Viriato
O gato Viriato é um personagem muito divertido e inteligente, que vive quatro aventuras diferentes e se mete em muitas encrencas. A amizade, o medo, a arte - em todos os seus sentidos - e, principalmente, o amor são os temas das suas histórias. Em todas, as imagens permitem ao pequeno leitor contar e recontar as aventuras de Viriato, criando a sua própria versão.
Maria Teresa
Texto/poema lírico e épico impregnado de emoção, fantasia, ficção e realidade. São as memórias de uma carranca, cujo aspecto é de um ser dúbio, metade mulher, metade animal, e, segundo a tradição, sua presença na proa das embarcações espanta os "maus espíritos" e traz sorte aos navegantes... A heroína desse conto/ poema - Maria Teresa - coleciona histórias. Para ouvi-las, basta deslizar no azul das páginas deste livro conhecendo
o rio São Francisco através da narrativa de uma carranca.
Nau Catarineta
Nau Catarineta é o mais célebre, o mais belo, o mais mítico dos romances marítimos do cancioneiro lusitano. Xácara anônima, oriunda da segunda metade do século XVI, é a perfeita prova do nível estético, da síntese lírica, da sabedoria e economia dramáticas a que pode chegar a poesia anônima do povo em seus maiores momentos. Uma longa pesquisa entre as inumeráveis variantes do poema conduziu Roger Mello à excelente versão dramática desse livro. Trabalho semelhante, de reinterpretação de muitas vertentes da nossa arte popular, serviu de inspiração para as suas ilustrações, que fazem desse álbum uma festa para os olhos e para a alma, uma celebração obrigatória para os que se interessam, em qualquer idade, pelas nossas mais fundas e autênticas raízes.
Prêmio FNLIJ 2005 (“Hors Concours” nas categorias Reconto e Ilustração)
Menção Altamente Recomendável FNLIJ, 2005
Prêmio Jabuti 2005, CBL (Melhor Ilustração Infantil ou Juvenil)
Premium Label White Ravens 2005 Biblioteca Internacional de Munique
Programas de leitura PNLD 2006, PNBE 2005
Programa Livro Aberto 2007
Programa Ler e Escrever 2008
Editado na França com o título Catarineta, Les Editions du Pépin, 2005
Sobre o autor:
O escritor e ilustrador brasiliense nasceu em 1965. Recebeu o prêmio suíço Espace-enfants em 2002 e no mesmo ano foi vencedor do prêmio Jabuti nas categorias literatura infanto-juvenil e ilustração com Meninos do mangue. Com vários trabalhos premiados, tornou-se hors-concours dos prêmios da Fundação Nacional do Livro Infantil e Juvenil (FNLIJ). Por sua obra como ilustrador, foi indicado para a edição de 2010 do prêmio Hans Christian Andersen, considerado o Nobel da literatura infanto-juvenil.
Leia uma entrevista concedida durante a 27ª Feira do Livro de Caxias do Sul, na qual o ilustrador fala sobre o desejo de ver os animais brasileiros na Literatura.
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